Ouço os anjos marchando

Puta que pariu... Acabei de assistir um documentário chamado "À todo volume" ("It Might Get Loud") de Davis Guggennheim que trata exclusivamente do amor à guitarra. Para falar sobre a relação com esse instrumento símbolo do rock and roll, foram convidados ninguém menos do que os gitarristas Jack White (White Stripes e Racounteurs), The Edge (U2) e o mestre Jimmy Page (Led Zeppelin). Para falar sobre o post de hoje, inspirado por esse último, guitarrista de uma das minhas bandas de cabeceira - retirei uma canção do álbum "Physical Graffiti" de 1974. Segue a letra:




In My Time Of Dying
(Page / Bonham / Jones / Plant)

In my time of dying, want nobody to mourn
All I want for you to do is take my body home

Well, well, well, so I can die easy (X2)

Jesus, gonna make up my dyin' bed.
Meet me, Jesus, meet me. Meet me in the middle of the air
If my wings should fail me, Lord. Please meet me with anotherpair

Well, well, well, so I can die easy (X2)

Jesus, gonna make up.. somebody, somebody...
Jesus gonna make up... Jesus gonna make you my dyin' bed

Oh, Saint Peter, at the gates of heaven... Won't you let me in
I never did no harm. I never did no wrong

Oh, Gabriel, let me blow your horn. Let me blow your horn
Oh, I never did, did no harm.

I've only been this young once. I never thought I'd do anybody nowrong
No, not once.

Oh, I did somebody some good. Somebody some good...
Oh, did somebody some good. I must have did somebody some good...

And I see them in the streets
And I see them in the field
And I hear them shouting under my feet
And I know it's got to be real
Oh, Lord, deliver me
All the wrong I've done
You can deliver me, Lord
I only wanted to have some fun.

Hear the angels marchin', hear the' marchin', hear them marchin',
hear them marchin', the' marchin'

Oh my Jesus... (repeat)

Oh, don't you make it my dyin', dyin', dyin'...

(Studio Chatter: "That's gonna be the one, isn't it? "
"Come have a listen, then. "
Oh yes, thank you.")

Vamos à andança...

Confesso que Jimmy Page nunca foi dos meus guitarristas favoritos. Apesar da inegável criatividade do músico, sempre fiquei um pouco resistente às suas viagens psicodélicas no Led Zeppelin. Sempre me parecia que faltava algo naqueles solos crus e meio deslocados durante as canções impecáveis do Led. Após ver esse filme hoje, percebo a verdade. O erro era meu. Como não pude ver que aqueles momentos eram um transe hipnótico de amor entre o homem e seu instrumento de maior adoração, sua companheira fiel, a guitarra? Agora vejo que cada momento do guitarrista era um momento único seu, onde ele parecia estar desligado de todo o resto do mundo. Desligado de qualquer problema, de qualquer preocupação. Sua guitarra era sua passagem para um mundo próprio, desprovido de medo e de hesitação. Cabia a nós apenas observar e ouvir. Jimmy Page é mestre. Se para mim o maior músico do Led Zeppelin era o baterista John Bonham, agora Page está empatado com o Bonzo. Talvez até ultrapasse se eu levar em conta o amor que o cara sente pelo que faz. Nos momentos do filme em que mostram Page ouvindo discos de seus ídolos, o cara viaja. Exatamente como eu faço ouvindo ele e o Led Zeppelin. Ver então Page, White e Edge tocando In My Time of Dying juntos então, não tem preço. São 3 mestres aficcionados pelas suas guitarras, tocando uma das mais viajantes canções já gravada. Essa música é uma odisséia. Tem mais de 10 minutos, depois dos quais nos perguntamos se passaram todos mesmos ou onde estávamos enquanto a canção rolava. Ela narra a morte. Não com medo ou negação, mas com emoção e um misticismo único. Robert Plant começa: "Na minha hora de morte, não quero ninguém lamentando. Tudo o que quero é que levem meu corpo pra casa". Os versos são acompanhados de perto por um riff de guitarra de Page, que desde o primeiro segundo já mostra a que veio. Quando acaba essa estrofe e Plant continua lentamente, a bateria de Bonzo ganha vida, forte e o riff acompanha a voz de Plant quase falando: "Bem, bem, bem assim eu morrerei em paz". É fantástico de ouvir os dois. Voz e guitarra. Mas o mérito aqui é sobretudo de Jimmy Page, que depois vai se soltando, acelerando o riff, fazendo duelos sonoros com a bateria e criando uma instrumentação no meio sensacional. O solo é um dos mais fenomenais que existem, indo até a última casa numa aceleração frenética, mostrando em notas algo impossível de descrever em palavras, como a própria sensação de morte. Poderia falar por horas dessa canção e sua letra sensacional, mas vou destacar apenas mais uma estrofe, no final: "Eu os vejo nas ruas, eu os vejo no campo. Eu os escuto, gritando aos meus pés. Eu sei que isso é real. Livrai-me, Senhor, de todo mal que fiz". E vale também o destaque pro chamado emocionado de Plant repetindo mais de 10 vezes: "Oh my Jesus!". Como dito, é uma canção indescritível. Assim como a morte e o amor - sobretudo o de Jimmy Page por sua guitarra ;)

Nunca ouviu?

Antes de morrer quero mesmo que você ouça. Escute:

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